segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

COURO DE GATO (1962)

 


O curta, com roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, se passa na cidade do Rio de Janeiro pouco antes do carnaval. Na falta de material adequado, de melhor qualidade e mais caro, o couro de gato é usado para fabricação de tamborins.

Com forte característica do “Cinema Novo”, o curta mescla Drama e elementos cômicos para descrever as contradições do Rio de Janeiro, as diferenças entre quem vive no asfalto e quem vive nos morros.



Para crianças, que precisam trabalhar para ajudar no sustento de casa, além de vender jornais ou engraxar sapatos, surge a oportunidade de caçar gatos para serem vendidos para fabricantes de tamborins.

Com uma qualidade técnica impressionante, combinando muito bem os elementos de fotografia e trilha sonora, “Couro de Gato” consegue impactar, tanto pelo uso dos animais como das crianças na narrativa. São seres inocentes, que em muitos casos, desenvolvem uma relação de afeto, mas a realidade imposta obriga que eles sejam separados.

O curta é humano e sentimental, ao descrever as crianças como parte de um sistema desigual e que as obriga a lutar pela sobrevivência. Não fosse a necessidade material, dificilmente as crianças pegariam gatos para vendê-los.

“Couro de Gato” apresenta vários garotos, em várias situações, para caçar os gatos. Mesmo com cada um deles em diferentes pontos da cidade na busca pelos felinos, as suas fugas tem como destino um lugar em comum, a mesma entrada do morro. Um caça um gato numa mansão, outro, num ponto mais central e movimentado, outro, dentro da comunidade. O filme traz a reflexão de um tipo de caminho único para essas crianças, que continuarão a ter uma vida de privações quando se tornarem adultos.

Mesmo com os vários pontos de comédia presentes no curta, é impossível não se emocionar com a única criança que consegue subir o morro com um gato. A relação desenvolvida envolve muito do que falta na vida dele e que poderia ser preenchida com um animal de estimação.

“Couro de Gato” é um filme onde a realidade é dura e crua. O seu toque de realidade é crucial para a imersão do espectador, tendo uma linha de ligação entre contexto, personagens e espectadores. Com um elenco que conta com nomes como Riva Nimitz, Henrique Cesar, Milton Gonçalves, Francisco de Assis, Napoleão Muniz Freire e Cláudio Correia e Castro, o curta tem planos que contrastam as realidades existentes no Rio de Janeiro, na contradição entre morro e asfalto e em como cada realidade impacta a vida das pessoas.




domingo, 8 de dezembro de 2024

DURMA BEM (2019)

Sara é a nova babá de uma garotinha. Em sua primeira noite de trabalho, uma forte tempestade atinge a cidade. A mãe, que vai encontrar com o marido, deixa filha e babá sozinhas.
            “Durma Bem” tem um filtro de cor que acentua o tom da noite, da escuridão e da tensão que é estabelecida logo que a babá e a menina ficam sozinhas na casa. A tonalidade azul escura transmite a sensação de isolamento e medo. A atmosfera pesada e densa se acentua mais ainda quando Sara encontra um boneco de palhaço muito esquisito.

         O uso da câmera subjetiva, logo que Sara cobre o palhaço, aumenta ainda mais o clima de mistério e o horror que ronda a babá e a criança. A trilha sonora com uma chuva incessante e vibrações de suspense, ajudam muito na imersão do espectador no universo misterioso e onde o perigo está à espreita.

             Após colocar a menina para dormir, Sara ainda sente que algo estranho acontece dentro da casa. E, após um telefonema para a Senhora Castro, mãe da menina, o terror é plenamente estabelecido.

         Bruna Brito, que interpreta a protagonista Sara, tem uma atuação impecável, conseguindo encarnar muito bem todos os sentimentos de acordo com o que o ambiente exige. O elenco ainda conta com Júlia França, Angela Valentin e Max Moreira.

         “Durma Bem” tem elementos técnicos muito bem explorados pelo diretor Weslei Mata, que também é responsável pelo roteiro e montagem. Ele consegue reunir fotografia e trilha sonora de forma muito eficiente, causando a curiosidade e o medo em relação ao boneco encontrado por Sara. Suenya Generoso, responsável pela fotografia, executa um trabalho primoroso, aproveitando cada detalhe que aumenta a intensidade da imersão do espectador com a trama e com os personagens.

         “Durma Bem” é um Terror inquietante e perturbador. A forma como o filme se desenvolve e finaliza, faz dele uma ótima opção para os fãs de Terror, Suspense e Mistério.




        

sábado, 7 de dezembro de 2024

O SINO DE MONTEBELLO (2016)

 

O curta-metragem dirigido por Fernando Ferreira Garróz é baseado na crônica “O Sino de Natal”, publicado em 1951 e escrito por R. F. Lucchetti.

Apesar de ter o Natal como pano de fundo, o tom sombrio e a narração bem elaborada ditam o ritmo sombrio e obscuro da Animação, que tem ainda a adaptação, roteiro, produção e a própria locução de Fernando Ferreira Garróz.

O personagem-narrador revela a sua história de ferreiro e a produção do sino da igreja de Montebello. O personagem relata sobre como o espírito do Natal altera a vida na comunidade, com festividades, presentes, encontros, reencontros e os presentes que marcam a data e trazem alegria para muitas pessoas.

O insistente badalar do sino faz o ferreiro lembrar de sua amada Gina. Porém, a ligação de Gina com o sino é tenebrosa, arrepiante e apavorante. A trama envolve tudo num contexto mórbido e aterrorizante.

“O Sino de Montebello” se destaca pela capacidade de imergir o espectador na história, se envolvendo com as cenas de caridade, festividade e com o sinistro badalar do sino. O excelente trabalho de locução, som e trilha sonora compõem o clima denso, pesado e intrigante de Montebello. A voz marcante do narrador dá ainda mais força para a trama.

A lembrança de Gina, traz as memórias mais importantes da vida do ferreiro, mas também deixa explícito que as memórias fazem parte de um passado e que não tem mais volta.

“O Sino de Montebello” tem uma narrativa meticulosamente construída, fazendo com que o espectador se aprofunde na mente do ferreiro e ouça cada palavra como parte de um pensamento conjunto. A união da fotografia e da trilha sonora, juntamente com a arte, conseguem, de forma monumental criar essa ligação entre personagem e público. E tudo isso torna “O Sino de Montebello” surpreendente e genial.

O curta tem um ar sombrio e incômodo. E esse é um dos grandes méritos da fotografia e da competente equipe de animação, que conta com Marcos Spineli, Arthur F. Padua e Guilherme Guidetti.

“O Sino de Montebello” é curta de Animação, mas que aborda os gêneros Suspense, Mistério e Terror em suas formas mais cruas, sinistras e pavorosas.



quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

DIVERSÕES SOLITÁRIAS (1983)

           “Diversões Solitárias” apresenta um jovem que, de patins e de walkman, percorre por vários pontos da cidade de São Paulo, transitando entre várias pessoas e vendo muitas coisas em meio ao caos e ao barulho da metrópole.



           Luiz Nascimento interpreta o protagonista, que é muito mais do que apenas um jovem que transita pelas ruas, cruzando com as pessoas e deixando de as ouvir devido à música que escuta através do fone de ouvido. Entre o personagem que se prepara para sair e o que retorna para casa, há muitas camadas sobre ele, que servem para se refletir.

         Mesmo estando num lugar movimentado, com pessoas que procuram interagir, o universo do personagem não é o mesmo da maioria das pessoas. O seu mundo é diferente, fazendo com que ele seja diferente, pense diferente e deseje coisas diferentes. Por mais que a cidade insista em igualar as pessoas como meras peças de um imenso quebra-cabeças, as pessoas são únicas, com suas personalidades e identidades.

         O filme tem uma carga dramática bastante impactante pela forma como o protagonista se relaciona. Apesar de ser um filme lançado em 1983, incrivelmente, ele consegue dialogar com a realidade atual, demonstrando o quão difícil é estabelecer e manter vínculos. O isolamento e a solidão não é um mal dos nossos tempos; ele parece estar impregnado na sociedade, criando universos próprios onde muitas pessoas se satisfazem sozinhas.



         “Diversões Solitárias” é um Drama produzido com muita profundidade. O diretor Wilson Barros, que também é o responsável pelo roteiro, extrai o máximo do que o texto tem a oferecer. E os elementos técnicos de produção, como trilha sonora, fotografia e arte, constroem com muita precisão o mundo do protagonista e como ele lida com as suas ambições, prazeres e pensamentos.

         “Diversões Solitárias” é um filme que explora o emocional e o psicológico de uma forma sensível, profunda, pontuando que a complexidade da mente humana não é algo programado ou pré-definido, mas algo que é inerente ao temperamento e personalidade de cada um.




terça-feira, 3 de dezembro de 2024

A COISA NA FLORESTA (2020)

 

Com apenas 4 minutos de duração, “A Coisa na Floresta” é extremamente imersivo e assustador. A produção utiliza de forma muito eficiente elementos simples, mas com uma qualidade gigante por parte de Jeziel Bueno, que, além da direção, é responsável pelo roteiro, produção, trilha sonora, fotografia e arte.

Jeziel demonstra toda a sua competência para criar um clima denso, pesado e totalmente perturbador. O que era para ser apenas uma brincadeira se torna num pesadelo sem volta.

“A Coisa na Floresta” tem seu início quando uma garotinha encontra outra que brinca com uma boneca numa praça. Cada uma com uma boneca, elas iniciam uma interação e logo decidem adentrar para uma floresta próxima.

Sem diálogos audíveis, as duas garotas caminham em meio a mata e o trabalho de som é fundamental para criar o ambiente de perigo. Os sons do vento e dos passos na mata transmitem o realismo e também o perigo que se aproxima.

Logo, a garota que foi convencida a entrar na mata se vê em grande perigo, quando encontram com um homem, próximo a um prédio velho e abandonado. A esquisitice do personagem é tão grande quanto a ameaça que ele representa.

A atmosfera sobrenatural do curta, nos faz pensar sobre os personagens em si, e em como e por que agem daquela forma. O que sabemos é que são personagens assustadores e que estão à espreita para fazer mais vítimas. O filme conta com as atuações de Lara Cristina, Larissa Xavier, Milton Toledo e Rebeka Sousa.

“A Coisa na Floresta” tem ótimos elementos narrativos e dramáticos. Os elementos técnicos da produção potencializam o texto, fazendo desse curta mais um excelente filme de Terror e Suspense na carreira de Jeziel Bueno, que é um dos grandes nomes do Terror nacional.




segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

DEPOIS DO FIM DO MUNDO (2011)


“Depois do Fim do Mundo” é um trabalho de conclusão de curso da UEMG em 2010, com produção, roteiro e direção de Flávio R. Moura e orientação de Leonardo Dutra.

Mesclando os gêneros Ficção Científica e Comédia, a Animação em curta-metragem narra a rotina de dois mercenários que vivem num mundo pós-apocalipse zumbi e que estão em meio a mais um trabalho.

“Depois do Fim do Mundo” é um filme cativante, divertido e muito bem produzido. O filme tem qualidades técnicas, narrativas e dramáticas extremamente eficientes. O texto é excelente, resultando em um contexto que atrai a curiosidade do espectador e em personagens que é impossível não simpatizar.

A dupla de mercenários tem as vozes de Affonso Amajones, como o Escocês, e Nelson Machado como o alienígena Kroax. O elenco conta ainda com a voz de Mauro Castro.

“Depois do Fim do Mundo” impressiona pela fluidez narrativa e dramática, com diálogos ácidos cheios de referências. A conversa dos protagonistas vai desde nomes de filmes do Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, até os tipos de zumbis existentes. Em meio ao bate-papo dos personagens, ainda há também referências à cultura nerd, alguns elementos “tarantinescos” e um easter egg surpresa que surpreende muito.

O curta de Flávio R. Moura é uma animação adulta extremamente competente, com uma fusão perfeita entre forma, conteúdo e essência, com um arco dramático bem estruturado que prende a atenção do espectador. À medida que a história se desenvolve, a tensão cresce de maneira gradual, intercalada por momentos de humor ácido e ironia, trazendo à tona questões existenciais em um cenário de apocalipse zumbi. A estética visual é outro ponto de destaque, misturando elementos da cultura pop e referências cinematográficas de forma habilidosa, o que contribui para uma atmosfera única. O tom sarcástico da trama, reforça o ritmo leve, cômico e dinâmico da narrativa.

No decorrer da história, a interação entre os protagonistas revela camadas mais profundas sobre o que significa sobreviver em um mundo devastado, questionando até onde vai a humanidade em situações extremas. Ao misturar ação, diálogos afiados e nostalgia, "Depois do Fim do Mundo" consegue criar uma obra que transcende o gênero de Animação e proporciona uma deliciosa e divertida experiência. 




COURO DE GATO (1962)

  O curta, com roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, se passa na cidade do Rio de Janeiro pouco antes do carnaval. Na falta de mate...