O curta, com
roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, se passa na cidade do Rio de
Janeiro pouco antes do carnaval. Na falta de material adequado, de melhor
qualidade e mais caro, o couro de gato é usado para fabricação de tamborins.
Com forte
característica do “Cinema Novo”, o curta mescla Drama e elementos cômicos para
descrever as contradições do Rio de Janeiro, as diferenças entre quem vive no
asfalto e quem vive nos morros.
Para crianças,
que precisam trabalhar para ajudar no sustento de casa, além de vender jornais
ou engraxar sapatos, surge a oportunidade de caçar gatos para serem vendidos
para fabricantes de tamborins.
Com uma
qualidade técnica impressionante, combinando muito bem os elementos de
fotografia e trilha sonora, “Couro de Gato” consegue impactar, tanto pelo uso
dos animais como das crianças na narrativa. São seres inocentes, que em muitos
casos, desenvolvem uma relação de afeto, mas a realidade imposta obriga que
eles sejam separados.
O curta é
humano e sentimental, ao descrever as crianças como parte de um sistema
desigual e que as obriga a lutar pela sobrevivência. Não fosse a necessidade
material, dificilmente as crianças pegariam gatos para vendê-los.
“Couro de
Gato” apresenta vários garotos, em várias situações, para caçar os gatos. Mesmo
com cada um deles em diferentes pontos da cidade na busca pelos felinos, as
suas fugas tem como destino um lugar em comum, a mesma entrada do morro. Um
caça um gato numa mansão, outro, num ponto mais central e movimentado, outro,
dentro da comunidade. O filme traz a reflexão de um tipo de caminho único para
essas crianças, que continuarão a ter uma vida de privações quando se tornarem
adultos.
Mesmo com os vários pontos de comédia presentes no curta, é impossível não se emocionar com a única criança que consegue subir o morro com um gato. A relação desenvolvida envolve muito do que falta na vida dele e que poderia ser preenchida com um animal de estimação.
“Couro de
Gato” é um filme onde a realidade é dura e crua. O seu toque de realidade é
crucial para a imersão do espectador, tendo uma linha de ligação entre
contexto, personagens e espectadores. Com um elenco que conta com nomes como
Riva Nimitz, Henrique Cesar, Milton Gonçalves, Francisco de Assis, Napoleão
Muniz Freire e Cláudio Correia e Castro, o curta tem planos que contrastam as
realidades existentes no Rio de Janeiro, na contradição entre morro e asfalto e
em como cada realidade impacta a vida das pessoas.