terça-feira, 22 de outubro de 2024

O BILHETE (2020)


O curta, adaptado do conto homônimo de Fahya Kury Cassins, tem como ambiente um bar. Tudo está normal, até que uma mulher entra e implora para que alguém escreva uma carta para ela. Ele tem o papel, tem o dinheiro para enviar, tem o texto que deve ser escrito, porém, mesmo assim, encontra resistência do dono do bar. Ele chama por uma mulher que, inicialmente, alega que ali é um bar. No entanto, ela escreve o que a mulher precisa dizer.

“O Bilhete” tem na sua protagonista, uma pessoa aflita e emocionalmente abalada. A sua fala, os seus gestos, as suas expressões faciais, demonstram que ela precisa colocar para fora as suas angústias, diante da realidade que ela narra, não só para a mulher que escreve a carta, mas para todos os outros presentes no local.

A indiferença com que as pessoas lidam com a situação, ou se negando a escrever, ou escrevendo sem demonstrar empatia, ou simplesmente deixando entrar por um ouvido e sair pelo outro, demonstra que a maioria das pessoas não se importa com os problemas dos outros.

A própria protagonista não sabe lidar com os seus problemas. Ora dita uma coisa, ora dita outra, pedindo para a pessoa que escreve, colocar ou tirar algo de seu desabafo.

O conteúdo da carta guarda algumas situações e sentimentos que é incompreensível para outros, mas que machuca fortemente a protagonista. Ok, o homem e a mulher disseram para ela que ali era um bar, o espectador sabe que o local correto para se ditar e despachar uma carta é uma agência dos correios. Mas, diante da frustração da personagem principal, há de se pensar se ela já passou por outros lugares, pedindo a mesma coisa. Ou se ela entrará em outros bares, lojas de roupas, escritórios de contabilidade, ou num posto de gasolina e irá pedir a mesma coisa. Fica a impressão que, para ela, a carta nem é tão importante, mas é preciso colocar para fora o que sente.

E o comportamento das pessoas que ficam, logo após a mulher deixar o dinheiro para que a carta seja enviada é triste, é insensível, mas infelizmente, parece ser a realidade de muitas pessoas que se negam a compreender os problemas de outras e tratar com indiferença.

Em seus 6 minutos, “O Bilhete” demonstra uma qualidade enorme da equipe técnica e criativa. O diretor Clark Cesar, consegue extrair o máximo do texto, criando o universo onde o espectador rapidamente se conecta com a protagonista, interpretada por Luana Santos. Mesmo com as poucas informações transmitidas pela mulher que dita a carta, o elo de ligação entre protagonista e espectador se cria muito devido à excelente atuação de Luana. O filme conta ainda com Samuel Kühn, Giseli Rover, Nelso Buttendorf Junior, Marlon Ricci e Gino Ricardo no elenco.

“O Bilhete” cumpre com muita eficiência o desafio de ser um filme que se passa num único ambiente, com um arco dramático e narrativo muito bem alinhado. O filme é uma realização da Oficina Produções. 




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