quarta-feira, 23 de outubro de 2024

CAÍDO (2023)

O curta independente, com roteiro, direção, montagem e produção de Alexandre Estevanato, traz a história de um homem isolado e recluso em sua pequena tapera. Mesmo distante de tudo e de todos, o homem costuma ser visitado por pessoas que o cobram e o agridem, o culpando pela maioria dos erros e problemas existentes.

“Caído” é um curta que mescla o Drama, a Fantasia e o Suspense e humor ácido. No primeiro ato são apresentados a vida do protagonista, os seus pensamentos e os incômodos por ser responsabilizado por erros de terceiros.

As ações do homem, interpretado de forma brilhante por Sérgio Pardal, deixa uma dúvida sobre a sua origem. O que é explicitado ao longo do curta. O comportamento do protagonista alterna irritação, impaciência e sonhos de luxúria e hedonismo.

De forma muito interessante o diretor-roteirista, deu alguns toques cômicos ao seu filme, tanto para o homem se proteger de pessoas que são ruins e o atacam, como na sequência final pós-créditos.

“Caído” tem uma trama muito bem elaborada e conduzida por Alexandre Estevanato. A qualidade do texto e as atuações, tanto de Sérgio Pardal quanto de Roberto Borenstein, trazem uma reflexão interessante sobre a natureza do comportamento humano. Os elementos técnicos como fotografia, arte, maquiagem e figurino, compõem muito bem o personagem. A paleta de cores mistura e funde personagem, tapera e terra, como uma coisa só.

 


O nome do curta e a sinopse são bastantes sugestivos sobre a natureza do personagem. Gradativamente, a sua personalidade é revelada e o contexto é inserido.

“Caído” é um filme para quem tem a mente aberta ou procura enxergar a crítica proposta pelo diretor através de uma perspectiva diferente. O curta não nega a existência de Satanás, mas procura dialogar com a ideia de que nem tudo o que acontece no mundo é responsabilidade dele. Vale muito a pena ler a entrevista do portal “Diário da Região” com Alexandre Estevanato: https://www.diariodaregiao.com.br/cultura/diretor-rio-pretense-alexandre-estevanato-divulga-novo-curta-1.1237209. E não há como discordar de que muitas pessoas estão dispostas a culpar, ou o Diabo ou outras pessoas, pelos seus fracassos ou frustrações.

Com um apego filosófico e metafórico, o curta personifica o “bode expiatório” da cosmologia moral humana, onde o mal é constantemente projetado em uma entidade mitológica. O filme tem como ponto central, não o Diabo em si, mas o mal humano que habita a Terra e como muitos se esquivam das consequências de seus atos.

Quando Deus, interpretado por Roberto Borenstein, surge e inicia uma interação com o Diabo, aí sim, o curta é mais direto sobre a forma como o “criador” enxerga a natureza humana e o desvio feito pela humanidade. E essa interação reflete uma cosmologia metafórica na qual a imperfeição humana, a negligência de responsabilidade e a ambiguidade moral são os temas centrais do curta, como crítica às ações dos homens.

Sem ver outra saída, Deus decide que é hora de acabar com tudo e dar um novo início. O filme assume um tom irônico e com uma forte pegada de humor ácido, onde o Diabo terá a infelicidade de fazer o que Noé fez, de acordo com o Gênesis.

“Caído” aborda, com muito bom humor, uma crítica pertinente sobre a dualidade humana e a quebra de expectativa que reflete sobre o papel das figuras mitológicas e a maneira como os humanos interpretam o bem e o mal.









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