O curta independente, com roteiro, direção, montagem e produção de Alexandre Estevanato, traz a história de um homem isolado e recluso em sua pequena tapera. Mesmo distante de tudo e de todos, o homem costuma ser visitado por pessoas que o cobram e o agridem, o culpando pela maioria dos erros e problemas existentes.
“Caído” é um curta que mescla o Drama, a Fantasia e o Suspense e humor ácido. No primeiro ato são apresentados a vida do protagonista, os seus pensamentos e os incômodos por ser responsabilizado por erros de terceiros.
As ações do homem, interpretado de forma brilhante por Sérgio Pardal, deixa uma dúvida sobre a sua origem. O que é explicitado ao longo do curta. O comportamento do protagonista alterna irritação, impaciência e sonhos de luxúria e hedonismo.
De forma muito interessante o diretor-roteirista, deu alguns toques cômicos ao seu filme, tanto para o homem se proteger de pessoas que são ruins e o atacam, como na sequência final pós-créditos.
“Caído” tem uma trama muito bem elaborada e conduzida por Alexandre
Estevanato. A qualidade do texto e as atuações, tanto de Sérgio Pardal quanto
de Roberto Borenstein, trazem uma reflexão interessante sobre a natureza do
comportamento humano. Os elementos técnicos como fotografia, arte, maquiagem e
figurino, compõem muito bem o personagem. A paleta de cores mistura e funde
personagem, tapera e terra, como uma coisa só.
O nome do curta e a sinopse são bastantes sugestivos sobre a natureza do personagem. Gradativamente, a sua personalidade é revelada e o contexto é inserido.
“Caído” é um filme para quem tem a mente aberta ou procura
enxergar a crítica proposta pelo diretor através de uma perspectiva diferente. O
curta não nega a existência de Satanás, mas procura dialogar com a ideia de que
nem tudo o que acontece no mundo é responsabilidade dele. Vale muito a pena ler
a entrevista do portal “Diário da Região” com Alexandre Estevanato: https://www.diariodaregiao.com.br/cultura/diretor-rio-pretense-alexandre-estevanato-divulga-novo-curta-1.1237209. E não há
como discordar de que muitas pessoas estão dispostas a culpar, ou o Diabo ou
outras pessoas, pelos seus fracassos ou frustrações.
Com um apego filosófico e metafórico, o curta personifica o “bode
expiatório” da cosmologia moral humana, onde o mal é constantemente projetado
em uma entidade mitológica. O filme tem como ponto central, não o Diabo em si,
mas o mal humano que habita a Terra e como muitos se esquivam das consequências
de seus atos.
Quando Deus, interpretado por Roberto Borenstein, surge e
inicia uma interação com o Diabo, aí sim, o curta é mais direto sobre a forma
como o “criador” enxerga a natureza humana e o desvio feito pela humanidade. E
essa interação reflete uma cosmologia metafórica na qual a imperfeição humana,
a negligência de responsabilidade e a ambiguidade moral são os temas centrais
do curta, como crítica às ações dos homens.
Sem ver outra saída, Deus decide que é hora de acabar com tudo e dar um novo início. O filme assume um tom irônico e com uma forte pegada de humor ácido, onde o Diabo terá a infelicidade de fazer o que Noé fez, de acordo com o Gênesis.
“Caído” aborda, com muito bom humor, uma crítica pertinente
sobre a dualidade humana e a quebra de expectativa que reflete sobre o papel
das figuras mitológicas e a maneira como os humanos interpretam o bem e o mal.
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