quinta-feira, 21 de novembro de 2024

EFEITO CASIMIRO (2013)

 


Edílcio Barbosa foi o homem que anunciou que uma espaçonave vinda de Júpiter iria pousar numa fazenda localizada na cidade de Casimiro de Abreu, no interior do estado do Rio de Janeiro, no dia 8 de março de 1980, 05h20min da manhã.

O anúncio feito por Barbosa tinha tudo para não dar em nada, porém, o que aconteceu posteriormente foi uma curiosidade em massa, tanto por ufólogos, imprensa e curiosos, de que uma nave pousaria no local indicado pelo enigmático homem.

O Documentário “Efeito Casimiro” retorna ao ano de 1980 e explorar, desde o contexto sócio-político da época, até a forma como Casimiro de Abreu se tornou uma espécie de “Woodstock brasileira”.

Com depoimentos de pessoas que presenciaram toda a movimentação na cidade e na fazenda, imagens de arquivos em fotos, vídeos e páginas de jornais da época, se tem a noção do evento e como milhares de pessoas de vários locais do Brasil e de outros países se reuniram.

Num Brasil policiado pelos militares, o encontro em Casimiro de Abreu representou um grande encontro e uma enorme festa de vários tipos de pessoas e de várias origens. Em meio à multidão, havia os que beberam, fumaram maconha, ouviram música e muito mais do que poderia ser feito durante uma festa.

Com um rico trabalho de pesquisa, a diretora Clarice Saliby, detalhou perfeitamente todo o frenesi vivido pelas pessoas na época. Responsável também pelo argumento, roteiro e montagem, a diretora e as equipes criativa e técnicas entregaram um trabalho perfeito. Um curta que mantém o nível de atenção alto, desde o início até o final. Mesmo com a ausência dos jupiterianos, o curta consegue manter a curiosidade, ainda mais pelo que é relatado sobre o personagem principal, Edílcio Barbosa.

“Efeito Casimiro” é um Documentário que mescla com a Ficção Científica e aguça a curiosidade por um dos fatos mais marcantes da ufologia brasileira. Apesar da mancada dos extraterrestres que não apareceram naquela manhã de março de 1980, Barbosa deixou uma nova mensagem e que faz crer que ele sabia muito sobre os visitantes jupiterianos.




quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A VALSA DO PÓDIO (2013)

 


O documentário acompanha a trajetória da vitoriosa paratleta Terezinha Guilhermina e seu guia Guilherme Santana nos Jogos Paralímpicos de Londres em 2012.

Através de imagens de arquivos, depoimentos e animações, o curta aborda a infância pobre na região metropolitana de Belo Horizonte, a entrada do esporte em sua vida e as conquistas das medalhas de ouro nos 100 e 200 metros rasos para cegos (T11).

É muito interessante como Terezinha e Guilherme se complementam e em como essa união culminou com as vitórias em Londres. Tanto Terezinha quanto Guilherme detalham como os dois atletas precisam estar em perfeita harmonia nos movimentos de pernas e braços.

O roteiro de “A Valsa do Pódio” é muito bem desenvolvido pelos diretores Bruno Carneiro e Daniel Hanai, com uma perfeição técnica das equipes de fotografia, som, produção e com uma montagem extremamente pontual, intercalando as narrações com imagens de arquivos e animações.

É impressionante a determinação e foco que Terezinha Guilhermina tem e a sua importância para o esporte brasileiro. Fez história e isso jamais será apagado. “A Valsa do Pódio” só reforça o orgulho de termos uma atleta como Terezinha e a inspiração que ela propicia para muitos atletas e paratletas brasileiros.




OK, KAREN (2022)

 


O curta, com roteiro e direção de Hugo L.V. e Oliveira, apresenta Camila Ferrazzano no papel de Letícia. Vivendo em sua residência durante o início da pandemia de Covid-19, mantém contato diário com Karen, uma assistente virtual.

Já no início, Letícia se vê numa situação devastadora, recebendo a notícia do falecimento de uma pessoa próxima e a difícil decisão de retirar ou não o nome da pessoa da agenda virtual.

Produzido em 2022, “Ok, Karen” descreve com precisão as tristezas, medos e angústias de um período tão difícil. Karen reproduz várias opiniões sobre o vírus, desde orientações sanitárias até fake News relacionadas à origem do vírus. “Ok, Karen” é um Drama extremamente realista, pois retrata fielmente o que muitas pessoas vivenciaram na pele. E, quase três anos após o início da disseminação do vírus, o curta ainda é impactante, tanto por fazer o espectador relembrar do começo, como pelo trauma coletivo, que afetará toda a geração que precisou enfrentar a pandemia.

O curta usa ainda as vozes de Lays Bezerra, como Karen, e Mirella Queiroz, no papel da mãe de Letícia, para construir o universo sufocante, melancólico e sombrio da casa de Letícia. Os aspectos técnicos também são extremamente eficientes para trabalhar na construção desse ambiente de aflição e medo, ao qual a protagonista vive.

Com o aumento no número de mortes e o risco de contaminação, Letícia é afetada intensamente emocional e psicologicamente. Saber a porcentagem de risco de contaminação passa a ser uma constante na vida dela, ao ponto de viver sempre no limite mental.

“Ok, Karen” tem uma narrativa muito interessante e um arco dramático angustiante e triste. O filme reflete sobre como, num momento de obrigatoriedade de distanciamento social, a solidão e o luto são elementos que afetam de forma implacável uma pessoa.




terça-feira, 19 de novembro de 2024

O SELVAGEM (2016)

 


Em seus quase cinco minutos, “O Selvagem” é um curta que tem um ritmo narrativo muito bem produzido. E o filme supera expectativas, justamente por mostrar pouco, porém, com intensidade. Talvez o maior medo que alguém que esteja numa mata possa sentir é o perigo que ronda. E o diretor Lucas Piaceski faz isso de forma muito consciente, precisa e certeira no curta que mescla Fantasia e Terror.

Embora o homem que entra na mata, à procura de água, esteja armado, o Saci não é a maior ameaça. Andar por um lugar desconhecido se torna o maior perigo, ainda mais quando o personagem se fere gravemente.

Por se tratar de uma figura mítica, o filme pode considerar o Saci como uma figura que se materializa frente o caçador, mas também se pode considerar o fato do personagem principal estar perdendo sangue. Se quisermos fazer uma abordagem mais metafísica, o filme gera um impacto muito interessante. Mas também, se a pessoa decidir por uma abordagem mais materialista, o impacto também é bastante forte. E estar aberto para esses tipos de abordagens é por mérito do texto e da direção.

Wagner Piaceski interpreta o jovem caçador que deixa o carro na beira da estrada e se aventura na mata, enquanto que Henrique Bressan está na pele da lendária criatura do folclore brasileiro.

Apesar do filme ter o idioma inglês, isso não interfere na essência da lenda e da proposta do filme. O principal fator do filme é a situação do protagonista e, sendo estrangeiro ou brasileiro, há justificativas para a ação dele logo após o surgimento do Saci. O medo impulsiona a atitude tomada pelo caçador.

Ao propor um encontro entre a vida ou morte, o bem ou mal, ou selvagem ou civilizado, a trama nos faz refletir sobre quem é bom ou mau, quem escolhe a vida ou a morte e quem é selvagem ou civilizado. E esses questionamentos são feitos porque talvez a ameaça seja um e não o outro. “O Selvagem” articula muito bem essas relações de confronto e o filme deixa em aberto o que cada um escolhe. É um filme muito bem produzido, com uma resolução final totalmente surpreendente e aterrorizante.




 

FUI COMPRAR CIGARROS (2012)

 


Entre cigarros e um clima poético, “Fui Comprar Cigarros” narra os pensamentos de um homem que vive intensamente uma relação. Provavelmente este seja o momento mais marcante de sua vida e é muito interessante como a narrativa o coloca na situação entre o “porquê” de uma coisa demorar a acontecer ou simplesmente acontecer somente após a conjugação de vários eventos.

O filme transita muito bem na combinação do Drama e do Romance, conduzindo o espectador para o universo dos protagonistas, de como se conheceram, de tudo o que viveram e como cada um tem muito a conhecer um do outro.

A vida é assim: a gente não conhece nem a nossa própria vida em sua totalidade, quanto mais a de outra pessoa? O homem, interpretado por Laerte Késsimos, levanta os questionamentos de como a vida pode surpreender quando deixamos as coisas acontecerem. O que ele vive com a mulher, interpretada por Laryssa Dias é uma paixão de uma vida. Cada toque, cada olhar, cada palavra, tudo está acontecendo ali naquele momento, e é tudo real.

“Fui Comprar Cigarros” fala de maneira poética de como o protagonista lida com seus conflitos internos e de como o tempo influencia as coisas que acontecem. Uma única noite pode dar sentido a uma vida inteira e realizar um sonho de muito tempo.

Com um belo roteiro de Leo Castelo e Rose Calza e direção refinada de Marcel Mallio, “Fui Comprar Cigarros” foi produzido de forma muito sensível. A narrativa em off, coloca o espectador lado a lado com o personagem masculino, criando um vínculo e facilitando a imersão. Trilha sonora, fotografia e arte justificam ainda mais a qualidade do filme que, ao mesmo tempo tem um ar vibrante e libertador, mas também é muito sensível.




OS ÓCULOS DO VOVÔ (1913)

 


A comédia filmada na cidade de Pelota (RS) é o filme brasileiro de ficção mais antigo e ainda preservado. Embora, seja o filme mais antigo com registro físico, do seu original com 15 minutos, restaram apenas fragmentos que totalizam quase 5 minutos, resgatados na década de 1970.

Os poucos minutos que guardam parte de “Os Óculos do Vovô”, apresentam um garoto que pinta os óculos do avô, enquanto ele dorme. Ao acordar, o idoso pensa estar cego.

A trama se desenrola com a mãe tentando fazer o menino ficar quieto, diante das traquinagens que ele apronta. E, diante da possível cegueira, o pai liga para um médico.

“Os Óculos do Vovô” traz um retrato do Brasil do início do século 20. As imagens do figurino da época, dos aparelhos telefônicos e da caleça que transporta o médico até a residência da família, demonstram um pouco da realidade em que o filme foi produzido.

O elenco do filme tem, além do diretor e roteirista Francisco Santos, que interpretou o avô, Mário Ferreira Neto, Graziela Costa, Jaime Cardoso, Jorge Diniz e Óscar Araujo. O garoto, causador das confusões, interpretado por Mário Ferreira Neto, que posteriormente ficou famoso como filósofo e escritor, era neto do diretor, e contava cerca de 6 anos durante as gravações.

“Os Óculos do Vovô” tem uma importância histórica e cultural enorme, principalmente por ser a obra audiovisual mais antiga ainda preservada. Qualquer pessoa que se interesse pela história do cinema brasileiro, precisa iniciar sua pesquisa pelos resquícios guardados nos 4 minutos e 34 segundos do filme “Os Óculos do Vovô”.




segunda-feira, 18 de novembro de 2024

CASA DO CAPETA (2010)

 


É quarta-feira de cinzas e um grupo de foliões decide entrar numa mansão abandonada. O que era para ser apenas uma brincadeira, se torna uma situação de medo e pavor, quando os jovens descobrem o mal que há no lugar.

Falar da competência de Rodrigo Aragão como roteirista e diretor de Terror é chover no molhado. Praticamente, ele nasceu para produzir filmes do gênero. E com “Casa do Capeta” não é diferente. O filme tem uma identidade única, que homenageia as produções mudas em preto e branco, mas com uma identidade bem atual. Falando em identidade, o curta tem uma identidade visual e sonora muito autêntica. Os movimentos da câmera e a trilha sonora que relembra um disco girando ao contrário, dão muito mais substância para a trama e para o morador da residência.

A equipe criativa e técnica entrega um ótimo filme que causa um desconforto. Como a trama se desenrola e com cada personagem tem um fim é narrativamente e visualmente apavorante. Quando os personagens percebem que não há saída e que estão presos no local, é muito desesperador.

E a forma como tudo acontece, após o segundo ponto de virada, é muito surpreendente. O mesmo ritual que, aparentemente, trouxe a criatura para aquela casa é feito, só que nem tudo sai como o esperado. E isso é um ponto muito interessante, porque o diretor usa a imprevisibilidade como ótima ferramenta. Quando o espectador pensa uma coisa, acontece outra. E essa quebra de expectativa é muito legal.

Como não poderia deixar de ser, o filme tem figurino e maquiagem de primeira. Os efeitos práticos também são outro ponto de destaque na produção do curta.

“Casa do Capeta” é um filme com uma identidade especial, produzido com muita criatividade e eficiência dos meios técnicos. O filme cumpre muito bem o papel de ser um bom entretenimento para os fãs de Terror. E tudo com uma qualidade inquestionável.




 

sábado, 16 de novembro de 2024

PAJERAMA (2008)


 No idioma Tupi, Pajerama significa “futuro pajé”. Para os nativos do tronco Tupi no Brasil, o pajé é a liderança que tem funções importantes no seu grupo, na sua aldeia. Dentre as atribuições do pajé, está a ligação espiritual do mundo material com a espiritualidade, a cura de doenças, preparação de ritos tradicionais, transmissão de sabedoria antepassada, etc.

Na Animação “Pajerama”, acompanhamos um jovem indígena que está caçando e se depara com uma situação caótica. Numa alusão a “2001: Uma Odisseia no Espaço”, o jovem índio se vê diante de um monolito, tocando-o e entrando num frenético universo, envolvendo estradas, veículos, metrôs, sinais de rádio, pontes, viadutos, sinais de trânsito, outdoor, etc. É uma experiência surreal e assustadora.

O jovem indígena se vê numa situação perigosa em meio a tantas coisas desconhecidas. E, geralmente, o desconhecido assusta. E aí que o monolito cumpre sua função, tal qual em “2001”. Ao tocar o monolito, um novo universo se abre. E não é porque somente isso, que o novo universo será melhor.

“Pajerama” trabalha com a ideia de como uma cultura pode impactar outras. O filme aborda a reflexão das diferenças entre indígenas e não-indígenas e como as expansões dos não indígenas podem interferir no modo de vida, nas relações sociais, nas tradições dos povos originários. Desde o século XVI, os nativos das Américas passaram a sofrer uma imposição no seu modo de vida, porém, “Pajerama” mostra essa imposição cultural, social, étnica econômica, política, nos tempos atuais.

Uma das dúvidas que fica é se realmente o jovem indígena se tornará um pajé algum dia. E aí, pode-se fazer um paralelo com o ótimo filme do diretor Luiz Bolognesi, “Ex-Pajé”. Tanto o filme de Luiz Bolognesi quanto o filme do diretor Leonardo Cadaval se complementam. Além da direção, Cadaval é responsável pelo roteiro e storyboard do Drama em Animação.

“Pajerama” é um filme profundo que aborda importantes questões sobre a avanço da população não-indígena e como os contatos podem ser (e foram) traumáticos e prejudiciais para os indígenas do que hoje conhecemos como Brasil.




sexta-feira, 15 de novembro de 2024

AS MÃOS DE LAURA (2011)

 

O curta de Suspense, que mescla Romance e Terror, apresenta um homem que questiona as dificuldades em se relacionar com as mulheres. As suas dificuldades se dão pelo fato de procurar pela mulher perfeita. Ele relembra os olhos de uma garota com quem teve um relacionamento. Relembra a barriga perfeita de outra. Porém, ele sonha em encontrar a perfeição numa única pessoa.

Aparentemente, o protagonista de “As Mãos de Laura” é um homem normal, que vive uma vida normal e reflete sobre coisas normais. Ao mesmo tempo em que se questiona sobre as mulheres, reflete também sobre a sociedade atual. O sujeito questiona a decadência moral e a falta de relacionamentos mais diretos, sinceros e leais. Assim como ele não encontra respostas sobre a “mulher perfeita” fica evidenciado posteriormente a contradição de seus pensamentos em relação às mulheres e também sobre a sociedade.

O nosso protagonista questiona a sociedade a partir de sua perspectiva e de sua mentalidade. E é interessante que ele se considera uma pessoa normal, mesmo diante da realidade concreta de sua vida.

A direção de Maurício Carvalho é consistente e profunda sobre a complexidade do personagem. O filme se permite a narração em off, porque, com o roteiro do próprio Maurício e Joaquim Ghirotti, nós precisamos saber mais sobre o que está na cabeça do protagonista do que no seu entorno. Destaque positivo também para a fotografia de Rafael Ruzene, som de Ronaldo Gomes, Tiago Ramos e Caetano Cotrim, e maquiagem de Sara Pires.

“As Mãos de Laura” é um Suspense com S maiúsculo, com uma qualidade criativa e técnica muito grande. É um filme que impressiona positivamente, sendo um prato cheio para quem curte uma abordagem psicológica de um personagem que pode se comportar de maneira normal ou totalmente bizarra.




A GALINHA QUE BURLOU O SISTEMA (2011)

 

A voz de Cecília Homem de Melo dá vida a uma galinha nesse intenso e envolvente curta. Em seus 15 minutos, “A Galinha que Burlou o Sistema” narra o despertar de consciência de uma galinha que vive ao lado de outras centenas numa granja industrial.

A nossa protagonista passa a questionar o seu papel dentro daquela sociedade e se recusa a aceitar o destino que está predestinada. Ela reflete como tudo poderia ser diferente e ela e as outras galinhas pudessem ter uma vida livre, onde elas próprias pudessem decidir sobre o seu destino.

A narração envolvente acompanha a trajetória da ave desde o momento em que sai do ovo, revelando como, desde o nascimento, os indivíduos considerados defeituosos são descartados ou triturados sem piedade. Infelizmente, essa é a realidade de um sistema implacável, que age como um rolo compressor, esmagando impiedosamente aqueles que não se encaixam em seus critérios de utilidade.

A galinha, revoltada com o destino dela e de todas as outras, ainda tenta conscientizar as suas companheiras. Porém, é em vão. Elas estão muito ocupadas se alimentando de ração com aditivos para um crescimento mais rápido que o normal e ignoram completamente o mundo em que estão inseridas e seus papéis nesse universo.

“A Galinha que Burlou o Sistema” faz uma inteligente alusão sobre quem somos e qual o nosso papel numa sociedade onde a maioria dos indivíduos não têm noção de como funciona o sistema e acredita que “o mundo é assim e não dá pra mudar”. A galinha insiste que há outro modo de vida, melhor, e que não empurra as aves para o abate. Ela sabe da existência de aves livres e que têm até mesmo a capacidade de voar.

Em sua fuga, a galinha vai para o tudo ou nada, em busca de sua liberdade. Cercada por um funcionário da granja, a galinha se vê acuada no alto do prédio. A decisão tomada por ela não é complementada no curta, mas a ideia é de que ela lutou pela sua liberdade até as últimas consequências.

“A Galinha que Burlou o Sistema” é um filme com um refinado uso dos elementos técnicos de produção, para a realização de um Drama dentro de um Documentário. A fotografia utiliza cores mais escuras e frias em determinados momentos para transmitir um sentimento triste e mórbido. A claridade e as cores mais fortes são usadas em trechos onde há pelo menos um sinal de liberdade e de esperança. Tudo mais funciona no curta, trilha sonora, arte, arco narrativo e dramático.

O curta, com roteiro de Ana Durães e Quico Meirelles e com direção de Quico é uma ótimo opção para refletir de que forma estamos inseridos num sistema e qual o nosso papel dentro dele. Há possibilidades para se tentar uma mudança? Se há, vale realmente lutar? Há uma gama enorme de temas e subtemas que o filme propõe e vale muito a pena pensar a respeito.




quinta-feira, 14 de novembro de 2024

CHEQUE-MATE (1996)

 

Nessa divertida comédia,            Paulo José e Zezé Polessa interpretam Rui e Alzira. Proprietários de uma modesta pousada-restaurante numa pequena cidade do interior, eles enfrentam problemas financeiros. A pousada está com pouco movimento e eles têm algumas dívidas, sendo uma delas com o açougueiro.

         Por obra do destino, chega até a cidade um representante do Bragantino Futebol e Regatas do Rio de Janeiro. Ele negocia a marcação de um jogo do Bragantino contra um time local e precisa de hospedagem para jogadores e comissão técnica. Conhecendo a pousada de Alzira e Rui, Fernando Luís decide pagar antecipadamente metade do valor da hospedagem. Rui lembra-se de que algumas pessoas ligadas à política local estavam para confirmar a estadia, porém Alzira convence o marido a aceitar a proposta do dirigente do clube de futebol.

O cheque assinado por Fernando Luís é usado para pagar a dívida com o açougue e comprar ainda mais carne para os próximos dias, tendo a garantia que o cheque tem fundos, afinal é do Bragantino do Rio. O açougueiro, por sua vez, usa o cheque para pagar uma dívida, usando o mesmo argumento.

O diretor Ricardo Bravo, que também é roteirista do curta, atrai o espectador para uma divertida viagem do cheque pelas mãos de vários moradores da cidade. As atuações são excelentes, com um elenco que conta ainda com Zezé Polessa, Paulo José, Antonio Gonzalez, Julio Braga, Isaac Bernat, Ricardo Bravo, Renata Reis, Rodrigo Drippe, Alexandre Dacosta, Catarina Abdalla, Soraya Ravenle e Wendell Salles.

A fotografia, arte e trilha sonora, auxilia na proximidade do espectador com a pequena cidade e parte de sua rotina. A transmissão do rádio narra muito do que acontece na cidade, sobre alguns personagens e como tudo se desenrola durante a viagem do cheque de mão em mão.

O curta é de uma criatividade incrível, mostrando como as relações interpessoais financeiras são resolvidas e deixando uma dúvida no ar sobre quem realmente pagou a conta.

“Cheque-Mate” é um curta fluido, com uma narrativa cativante e um desenvolvimento muito agradável. A produção tem um humor especial e é muito cativante.

ALGORITMO (2020)

“Algoritmo” é um curta de apenas 6 minutos, mas com uma potência dramática muito potente e chocante. O filme aborda de forma muito eficiente um perigo que ronda praticamente todas as pessoas, afinal as novas tecnologias que, podem facilitar a vida da sociedade, também pode ter um poder altamente destrutivo. “Algoritmo” é um filme essencial para o nosso tempo.

A trama envolve Carlos, que é um famoso escritor de livros de Suspense. Certa manhã ele desperta com notificações de mensagens e inicia o dia precisando enfrentar um massacre virtual, recebendo mensagens de ódio, com ofensas e ameaças.

O autor se surpreende com a ligação de sua agente que o informa de um vídeo postado por ele durante a madrugada. O vídeo é uma autoconfissão de um crime cometido por ele. O grande x da questão é que Carlos não se lembra de ter postado vídeo algum.

Em poucos minutos, “Algoritmo” captura o espectador para o mistério que envolve Carlos e o vídeo gravado por ele. Ele liga o seu notebook e confirma que há um vídeo comprometedor gravado por ele e postado nas redes sociais.

O curta de Suspense tem várias camadas, trazendo reflexões pertinentes sobre o mau uso de redes sociais, cancelamentos e linchamentos virtuais, que podem se tornar agressões e violência física. No caso de Carlos, provar o contrário do conteúdo do vídeo postado por ele demandaria muito tempo. E a revelação de uma verdade corre bem mais lentamente do que uma fake news impactante que incita os sentimentos de revolta, raiva e ódio coletivo.

“Algoritmo” nos faz pensar, refletir e levanta um debate extremamente importante. Afinal, no mundo virtual precisamos mais do que nunca questionar informações que recebemos diariamente através das mídias sociais.

“Algoritmo” é um filme com uma narrativa muito bem amarrada e conduzida pelo diretor Luís Carlos Lobo, que extrai o máximo do roteiro de Rafael Delgado. O filme tem elementos técnicos muito bem explorados pela direção de arte e de fotografia. A trilha sonora é muito bem produzida, perturbando o nosso representante em tela, que, assim como nós, está totalmente perdido naquele dia caótico.

O curta tem um final avassalador e chocante. E o pior de tudo é saber que a arte não foge muito da realidade. Na verdade, a arte está lado a lado com o mundo real atual. 




quarta-feira, 13 de novembro de 2024

ARACA – O SAMBA EM PESSOA (2014)

 


Presença marcante como jurada no programa “Show de Calouros”, Aracy de Almeida era a figura ranzinza, reclamona e implacável contra muitos dos calouros que cantavam.

Infelizmente, essa talvez seja a impressão que ficou para muitas pessoas que desconhecem o passado daquela senhora enfezada e de gênio forte. “Araca – O Samba em Pessoa” mostra o lado genial de Aracy de Almeida.

Se, por um lado, Aracy não merecia chegar à velhice precisando encarnar aquela personagem do programa Sílvio Santos, por outro o curta, com roteiro e direção de Aleques Eiterer, conseguiu homenagear uma estrela talentosíssima que está a anos-luz de distância daquela jurada caricata do programa do Silvio Santos.

Conhecer a grandeza e importância de Aracy de Almeida e ouvir alguns depoimentos do documentário termina por trazer a triste constatação de como muitos gênios da cultura brasileira são esquecidos e perdem o devido reconhecimento.

Em seus 21 minutos, o filme utiliza uma gama enorme de imagens de arquivos, com a interpretações de algumas de suas músicas e entrevistas da estrela do Samba. O curta conta ainda com os depoimentos de Carlos Didier, Cristina Buarque, Hermínio Bello de Carvalho, Jorge Mautner, Olivia Byington, Ricardo Cravo Albim, Rodrigo Faour e Sérgio Cabral.

Desde o início da carreira até a parceria com Noel Rosa, desde a infância pobre no subúrbio carioca no bairro do Encantado até a consolidação de uma das maiores vozes da música brasileira, Aracy transcendeu em sua carreira, deixando um legado importantíssimo para as gerações futuras. Nascida em agosto de 1914, Aracy viveu até o ano de 1988.

Tão emocionante quanto ouvir a Aracy de Almeida e os depoimentos é assistir os trechos ficcionais do curta. De forma incrível, os realizadores recriam o universo da Aracy de Almeida, com as atrizes Maria Clara Rodrigues e Rita França. O encontro da jovem Aracy e com a Aracy idosa e consagrada é de arrepiar. Isso dá ainda mais vida e força para falar quem foi Aracy de Almeida e criar uma conexão Aracy-filme-espectador. Praticamente quem assiste está inserido naquele mundo, sentindo pulsar o samba.

Nascida em agosto de 1914, Aracy viveu até o ano de 1988, porém, está imortalizada como uma das maiores cantoras do Brasil. “Araca – O Samba em Pessoa” é um primoroso documentário que celebra a história e memória de Aracy de Almeida, contando parte da história da música brasileira. Afinal, não há como falar de música brasileira sem citar Aracy de Ameida.


Assista “Araca – O Samba em Pessoa”: https://vimeo.com/480630768

DE UM OUTRO LUGAR (2023)

O curta apresenta duas jovens amigas que estão sozinhas em casa. Regina, a dona da casa, mostra para Camila um cristal negro, capaz de intermediar o mundo material com o mundo espiritual. Regina comprou a pedra através da internet e aprendeu a realizar o ritual assistindo a tutoriais.

Os realizadores acertam nos alívios cômicos pontuais, principalmente quando Regina tenta convencer Camila a participar do ritual de comunicação com o oráculo e, assim, obter respostas para questões sobre o futuro que desejam saber.

O entrosamento das atrizes Helena Sá e Thayná Máximo é fundamental o sucesso do filme. Tanto nos pontos cômicos, quanto nos pontos sobrenaturais, as duas jovens atrizes demonstram muita qualidade.

Com o início do ritual e a irritação de Regina com uma torneira pingando, temo o primeiro ponto de virada, onde a dona da casa entra em outra dimensão e precisa obedecer às ordens do Oráculo. O clima de tensão e a atmosfera de horror surpreendem, ainda mais quando Regina se vê presa, primeiro num cômodo e, posteriormente, no mundo imaterial.

“De um Outro Lugar” é um Terror que consegue prender a atenção do espectador, numa atmosfera densa e pesada por parte do texto. A fotografia e arte contribuem muito bem para o universo criado, com trabalhos competentes de suas equipes. O segundo e terceiro atos são os pontos onde é exigido mais da equipe técnica e onde o curta se sai muito bem.

Outro destaque interessante vai para o figurino e a maquiagem, que tem destaques essenciais e marcantes na produção. E, como não poderia deixar de ser, a trilha sonora complementa a composição desse excelente curta de Terror.

“De um Outro Lugar” é um filme que distrai, mas que ao mesmo tempo assusta e impressiona pela sua qualidade. É um filme que dialoga perfeitamente com o passado e presente, rememorando antigas produções de Terror, seja pela forma da narrativa ou pelas referências feitas até mesmo no pôster do filme e na fonte usada para o nome do filme.

O jovem diretor-roteirista Pedro Amaral comprova muita competência na direção “De um Outro Lugar” e é um dos nomes promissores no audiovisual brasileiro.




domingo, 10 de novembro de 2024

SOMBRAS (2017)

 

Lívia está trancada em seu apartamento durante um apagão. O detalhe é que a protagonista deste curta de Terror tem nictofobia, que é o medo irracional e potencializado do escuro, associando sentimentos de insegurança, ansiedade e pavor.

“Sombras” explora muito bem a fobia da personagem, que se sente um pouco mais aliviada ao falar com outra pessoa que mora no condomínio. Orientada pela pessoa que atende o telefonema, Lívia acende a lanterna do celular, procurando, aos poucos, se acalmar.

O curta tem uma construção de ambiente excelente, com uma fotografia eficiente e precisa, que extrai o máximo de luzes, sobras e escuridão. Muito da imersão se dá também pela grande atuação de Ariadine Mezzetti.

A trama traz o espectador para o pavor do escuro junto com a protagonista e, gradativamente, coloca num lugar seguro, à procura da claridade. Porém, nem tudo é o que parece. Às vezes, o escuro é o melhor lugar para se estar.

“Sombras” é surpreendente pela forma como é conduzido e pela eficiência dos elementos técnicos como direção, fotografia, arte, efeitos sonoros, e também pela coesão narrativa e dramática. O pouco que a personagem consegue ver no escuro reflete o seu estado mental durante o apagão. E não é somente porque a luz voltou, que traumas não possam se apresentar. Há mais coisas do que a personagem apenas vê ou seria alucinação? O barato do Terror psicológico é a gente poder especular sobre os personagens, suas ações e suas emoções.

“Sombras” é mais uma ótima produção de Terror da Hipnóticos Filmes e é um prato cheio para quem curte o gênero.




COURO DE GATO (1962)

  O curta, com roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, se passa na cidade do Rio de Janeiro pouco antes do carnaval. Na falta de mate...