A voz de Cecília Homem de Melo dá vida a uma galinha nesse
intenso e envolvente curta. Em seus 15 minutos, “A Galinha que Burlou o Sistema”
narra o despertar de consciência de uma galinha que vive ao lado de outras
centenas numa granja industrial.
A nossa protagonista passa a questionar o seu papel dentro
daquela sociedade e se recusa a aceitar o destino que está predestinada. Ela reflete
como tudo poderia ser diferente e ela e as outras galinhas pudessem ter uma
vida livre, onde elas próprias pudessem decidir sobre o seu destino.
A narração envolvente acompanha a trajetória da ave desde o momento em que sai do ovo, revelando como, desde o nascimento, os indivíduos considerados defeituosos são descartados ou triturados sem piedade. Infelizmente, essa é a realidade de um sistema implacável, que age como um rolo compressor, esmagando impiedosamente aqueles que não se encaixam em seus critérios de utilidade.
A galinha, revoltada com o destino dela e de todas as
outras, ainda tenta conscientizar as suas companheiras. Porém, é em vão. Elas
estão muito ocupadas se alimentando de ração com aditivos para um crescimento
mais rápido que o normal e ignoram completamente o mundo em que estão inseridas
e seus papéis nesse universo.
“A Galinha que Burlou o Sistema” faz uma inteligente alusão
sobre quem somos e qual o nosso papel numa sociedade onde a maioria dos
indivíduos não têm noção de como funciona o sistema e acredita que “o mundo é
assim e não dá pra mudar”. A galinha insiste que há outro modo de vida, melhor,
e que não empurra as aves para o abate. Ela sabe da existência de aves livres e
que têm até mesmo a capacidade de voar.
Em sua fuga, a galinha vai para o tudo ou nada, em busca de sua liberdade. Cercada por um funcionário da granja, a galinha se vê acuada no alto do prédio. A decisão tomada por ela não é complementada no curta, mas a ideia é de que ela lutou pela sua liberdade até as últimas consequências.
“A Galinha que Burlou o Sistema” é um filme com um refinado
uso dos elementos técnicos de produção, para a realização de um Drama dentro de
um Documentário. A fotografia utiliza cores mais escuras e frias em
determinados momentos para transmitir um sentimento triste e mórbido. A
claridade e as cores mais fortes são usadas em trechos onde há pelo menos um
sinal de liberdade e de esperança. Tudo mais funciona no curta, trilha sonora,
arte, arco narrativo e dramático.
O curta, com roteiro de Ana Durães e Quico Meirelles e com direção de Quico é uma ótimo opção para refletir de que forma estamos inseridos num sistema e qual o nosso papel dentro dele. Há possibilidades para se tentar uma mudança? Se há, vale realmente lutar? Há uma gama enorme de temas e subtemas que o filme propõe e vale muito a pena pensar a respeito.
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