quinta-feira, 31 de outubro de 2024

SUPERBARROCO (2008)

 

O Drama Experimental da diretora Renata Pinheiro e estrelado pelo ator paraibano Everaldo Pontes, não é simplesmente um filme onde o espectador somente vê e ouve. “Superbarroco” é um filme para ser experimentado, apreciado e sentido. Com elementos do surrealismo, o curta de 17 minutos, leva o espectador para uma abordagem artística, filosófica-existencialista e totalmente imersiva, se quem assiste se permitir viajar pela mente do protagonista.

Pode até haver um estranhamento sobre a narrativa, o personagem e o arco dramático do filme. E, de forma magistral, a equipe criativa consegue nos atrair para aquele universo, que aprofunda em questões relativas à identidade pessoal, memórias, lembranças, pertencimento, com técnicas de filmagem aparentemente simples, mas hipnotizantes. A arte visual, envolta no protagonista, permite sentir os sentimentos dele. A obra permite ao espectador se aprofundar ao máximo numa realidade onírica e introspectiva.

“Superbarroco” é arte no estado mais puro, refinado e autêntico. É certo que demorar um pouco até compreendermos as imagens das projeções. Mas, quando percebemos do que se trata, passamos a participar do filme. Não há quarta parede para ser quebrada. Simplesmente, quem assiste é introduzido dentro do universo do personagem principal.

E a arqueologia da mente do protagonista mistura realidade, sonhos e memórias. A narrativa é lenta e imersiva, justamente para que tudo passe a fazer sentido. Ou nem tudo possa fazer sentido, porque ninguém é capaz de conhecer totalmente o que uma pessoa carrega na sua bagagem de vivências, memórias, sonhos e ilusões.

O uso de flashbacks com projeções nas paredes da casa do protagonista demonstra uma execução técnica sublime. Ao abrir mão de flashbacks convencionais e utilizar projeções nas paredes, o filme transforma a memória em algo vivo, visual e interativo dentro do cenário. Essa abordagem não apenas comunica informações sobre o passado, mas também reflete o estado mental e emocional do protagonista. Essa ruptura com os padrões permite que o público experimente o passado de uma maneira sensorial, fundindo-o com o presente de forma mais fluida e poética, tornando a própria casa um personagem que "guarda" essas lembranças.

Assistir a “Superbarroco” é uma experiência única. O filme traz várias sensações e sentimentos, dentro de sua proposta narrativa e aspectos técnicos, que desconstroem a linearidade da narrativa tradicional. Através de uma linguagem visual poética e simbólica, a obra nos transporta para um universo em que o passado e o presente se entrelaçam, convidando o espectador a uma reflexão profunda sobre suas próprias memórias e experiências. A imersão nas nuances da história e a originalidade na construção das cenas fazem do filme uma obra marcante que desafia nossas percepções e expectativas.


Assista "Superbarroco" no Embaúba Play: https://embaubaplay.com/catalogo/superbarroco/ ou pelo canal Programa Curta Pernambuco, com uma entrevista com a diretora.





segunda-feira, 28 de outubro de 2024

CANA (2017)







O curta, com direção, roteiro e produção de Giovani Beloto, acompanha um pai que vai até um bar para assistir a um jogo de futebol com os amigos. Pedro e Aninha, seus filhos, estão juntos. Porém, já no caminho Aninha percebe algo estranho no canavial que cerca o bar e um campo de futebol.

Enquanto os adultos assistem à partida de futebol, as crianças optam por brincar no campo. Gradativamente, o perigo que está escondido no canavial vai tomando forma e atingindo as crianças.

“Cana” é uma produção de Suspense, Mistério e Terror que realmente surpreende por aguçar as expectativas do espectador e mostrar o que acontece, sem obrigatoriamente mostrar a criatura, ou monstro, ou assombração (ou que mais o espectador imaginar). O filme tem um trabalho de fotografia e trilha sonora eficiente, pois não mostrando a cara do perigo, faz com que a gente tenha certeza de que há algo realmente perigoso habitando o canavial. O movimento e o barulho do canavial são suficientes para criar o clima de tensão e mistério. Alguns efeitos sonoros são pontualmente bem utilizados.

Outra coisa que chama muito a atenção é o trabalho da equipe de arte, figurino e maquiagem. A ambientação dos anos 1970 ou início dos 1980, insinua que o que ronda o bar, dentro do canavial, pode ser o personagem de uma antiga lenda da região.

O trabalho de fotografia e som, juntamente com arte e figurino, cria um universo crível e ao mesmo tempo misterioso. Enquanto os adultos estão preocupados com a partida de futebol, as crianças estão realmente correndo risco. E Aninha é quem faz essa ponte entre “o mundo dos adultos” e “o mundo das crianças”. Ela quem percebe o mal no caminho, durante o período em que fica no bar ao invés de ir para o campinho brincar e, num terceiro momento, quando ela já decide brincar, porém temendo o que há no canavial e observando impotente tudo o que acontece.

“Cana” se destaca por sua narrativa fluida, imersiva e intrigante, com méritos para o trabalho da direção de fotografia de Laura Íori, arte de Belle Moro, som de Gezes Teles, Giovani Beloto, Felipe Reis e Gustavo Vilela.

O elenco de “Cana” conta com Sara Coan Santarém, Hugo Vidal, Vinícius Henrique de Arruda Xavier, Sophia de Paula Fré, Gustavo Cancian Ribeiro, Paulo Henrique R. Biazotto, Hercules di Memphis e Sidney Santos.

“Cana” é um curta envolvente e assustador que vale muito a pena. É uma ótima pedida pra quem curte um mistério com clima tenso, denso e sombrio, onde o suspense é mantido até o último segundo.






sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O BRILHO DA MORTE: 30 ANOS DO CÉSIO-137 (2017)

 O excelente documentário faz parte de uma série de reportagens produzidas pela TV Serra Dourada em 2017, narrando os fatos ocorridos em 1987 e afetando diretamente a vida da população inteira da cidade de Goiânia, com impactos traumáticos até hoje.

O acidente, causado por negligência dos ex-proprietários de uma clínica abandonada no centro de Goiânia, poderia ter sido evitado. Isso é o que mais impressiona a revolta ao assistir o filme e ouvir os relatos de vítimas, especialistas e jornalistas. É chocante, revoltante, triste e lamentável saber que tudo o que houve a partir do mês de setembro de 1987 poderia ter sido evitado se, simplesmente, um aparelho de radiologia tão perigoso estivesse num lugar seguro.

Como o aparelho estava num lugar abandonado e sem vigilância, dois catadores de sucatas tiveram acesso ao lugar, o retirando e vendendo para uma ferro-velho. O curta narra como o pó brilhante azul se tornou motivo de admiração e curiosidade entre várias pessoas. A contaminação se alastrou por várias partes da capital goiana e o evento com o Césio-137 tornou-se o maior acidente radioativo da história do Brasil e um dos maiores do mundo.

É triste ouvir das pessoas envolvidas como as suas vidas foram destruídas, pois além de mortes e sequelas físicas, muitas das pessoas que sofreram pela contaminação sofreram e sofrem ainda muito preconceito. Na época, a população de Goiânia sofreu com preconceito de moradores de outras cidades e estados.

“O Brilho da Morte: 30 Anos do Césio-137” é uma produção de Marcos Gallo, Jairo Menezes e Geovane Ázara, com roteiro e edição de Ázara. Utilizando imagens de arquivos pessoais e de outros meios de comunicação, o filme narra com extrema eficiência desde o dia em que o equipamento foi encontrado pelos dois catadores, o caminho que fez, como a contaminação se alastrou e como as consequências são sentidas até hoje.

É importante e necessário relembrar o caso de Goiânia, por vários motivos. O principal é servir de alerta para que casos como esse não aconteçam mais. É preciso que qualquer equipamento ou substância perigosa sejam manuseados por profissionais preparados e bem longe das pessoas comuns. É muito importante conhecer a história e os impactos causados por um acidente tão grave e que marcou a população brasileira. E é muito importante se solidarizar com as famílias afetadas e que têm problemas de saúde até hoje, 37 anos depois do acidente.




quarta-feira, 23 de outubro de 2024

A SEMANA (2023)

O curta é um pseudo making of de uma produção cinematográfica. Com 23 minutos, “A Semana” apresenta Gui, um jovem cinéfilo que tenta realizar o sonho de produzir um filme, junto com seu melhor amigo, Isaac.

O filme é uma Comédia extremamente eficiente, com uma trama muito bem construída, uma narrativa com muitos diálogos hilários e personagens bastante carismáticos. O protagonista vai da empolgação inicial ao impacto da dificuldade em se produzir sem experiência, mas insiste na produção. Dessa forma, eles enfrentam todos os tipos de percalços em busca da realização do projeto.

Os realizadores foram certeiros em todas as escolhas para produzir um filme com belas sacadas de humor, sarcasmo e ironia. Tudo ficou exatamente no ponto certo. A forma como os dias de trabalho se desenrolam durante a gravação do filme “O Agente Mascarado” é excelente, com picuinhas, dúvidas e irritações surgindo, e divertindo o expectador, que fica na curiosidade sobre o final da obra.

Desde a atriz inexperiente, o técnico de som que não sabe operar até o editor ranzinza, tudo funciona muito bem. E “A Semana” tem aspectos técnicos bem interessantes e com profissionais que sabem o que fazem e entregando um ótimo filme.

O roteiro é do diretor Cesar Gallego, que também atua no filme no papel de Jefferson. O elenco ainda conta com Victor Dornellas interpretando Gui, Sebá Neto como Isaac, Déco Araújo como Robson, Raquel Godoy como Camila, João Saldanha como Carlos, Jotta Moraes como o vilão, Ruann Oliveira como Lucas, Ben Gomes como o capanga, e Henrique Roque como o Vingador de Capuz. O filme é uma realização da Duque Pato Filmes, com produção de Cesar Gallego, Ben Gomes e Hugo L.V e Oliveira.

“A Semana” é certeza de que você vai assistir a uma divertidíssima comédia e o filme passa muito rápido.



CAÍDO (2023)

O curta independente, com roteiro, direção, montagem e produção de Alexandre Estevanato, traz a história de um homem isolado e recluso em sua pequena tapera. Mesmo distante de tudo e de todos, o homem costuma ser visitado por pessoas que o cobram e o agridem, o culpando pela maioria dos erros e problemas existentes.

“Caído” é um curta que mescla o Drama, a Fantasia e o Suspense e humor ácido. No primeiro ato são apresentados a vida do protagonista, os seus pensamentos e os incômodos por ser responsabilizado por erros de terceiros.

As ações do homem, interpretado de forma brilhante por Sérgio Pardal, deixa uma dúvida sobre a sua origem. O que é explicitado ao longo do curta. O comportamento do protagonista alterna irritação, impaciência e sonhos de luxúria e hedonismo.

De forma muito interessante o diretor-roteirista, deu alguns toques cômicos ao seu filme, tanto para o homem se proteger de pessoas que são ruins e o atacam, como na sequência final pós-créditos.

“Caído” tem uma trama muito bem elaborada e conduzida por Alexandre Estevanato. A qualidade do texto e as atuações, tanto de Sérgio Pardal quanto de Roberto Borenstein, trazem uma reflexão interessante sobre a natureza do comportamento humano. Os elementos técnicos como fotografia, arte, maquiagem e figurino, compõem muito bem o personagem. A paleta de cores mistura e funde personagem, tapera e terra, como uma coisa só.

 


O nome do curta e a sinopse são bastantes sugestivos sobre a natureza do personagem. Gradativamente, a sua personalidade é revelada e o contexto é inserido.

“Caído” é um filme para quem tem a mente aberta ou procura enxergar a crítica proposta pelo diretor através de uma perspectiva diferente. O curta não nega a existência de Satanás, mas procura dialogar com a ideia de que nem tudo o que acontece no mundo é responsabilidade dele. Vale muito a pena ler a entrevista do portal “Diário da Região” com Alexandre Estevanato: https://www.diariodaregiao.com.br/cultura/diretor-rio-pretense-alexandre-estevanato-divulga-novo-curta-1.1237209. E não há como discordar de que muitas pessoas estão dispostas a culpar, ou o Diabo ou outras pessoas, pelos seus fracassos ou frustrações.

Com um apego filosófico e metafórico, o curta personifica o “bode expiatório” da cosmologia moral humana, onde o mal é constantemente projetado em uma entidade mitológica. O filme tem como ponto central, não o Diabo em si, mas o mal humano que habita a Terra e como muitos se esquivam das consequências de seus atos.

Quando Deus, interpretado por Roberto Borenstein, surge e inicia uma interação com o Diabo, aí sim, o curta é mais direto sobre a forma como o “criador” enxerga a natureza humana e o desvio feito pela humanidade. E essa interação reflete uma cosmologia metafórica na qual a imperfeição humana, a negligência de responsabilidade e a ambiguidade moral são os temas centrais do curta, como crítica às ações dos homens.

Sem ver outra saída, Deus decide que é hora de acabar com tudo e dar um novo início. O filme assume um tom irônico e com uma forte pegada de humor ácido, onde o Diabo terá a infelicidade de fazer o que Noé fez, de acordo com o Gênesis.

“Caído” aborda, com muito bom humor, uma crítica pertinente sobre a dualidade humana e a quebra de expectativa que reflete sobre o papel das figuras mitológicas e a maneira como os humanos interpretam o bem e o mal.









terça-feira, 22 de outubro de 2024

O BILHETE (2020)


O curta, adaptado do conto homônimo de Fahya Kury Cassins, tem como ambiente um bar. Tudo está normal, até que uma mulher entra e implora para que alguém escreva uma carta para ela. Ele tem o papel, tem o dinheiro para enviar, tem o texto que deve ser escrito, porém, mesmo assim, encontra resistência do dono do bar. Ele chama por uma mulher que, inicialmente, alega que ali é um bar. No entanto, ela escreve o que a mulher precisa dizer.

“O Bilhete” tem na sua protagonista, uma pessoa aflita e emocionalmente abalada. A sua fala, os seus gestos, as suas expressões faciais, demonstram que ela precisa colocar para fora as suas angústias, diante da realidade que ela narra, não só para a mulher que escreve a carta, mas para todos os outros presentes no local.

A indiferença com que as pessoas lidam com a situação, ou se negando a escrever, ou escrevendo sem demonstrar empatia, ou simplesmente deixando entrar por um ouvido e sair pelo outro, demonstra que a maioria das pessoas não se importa com os problemas dos outros.

A própria protagonista não sabe lidar com os seus problemas. Ora dita uma coisa, ora dita outra, pedindo para a pessoa que escreve, colocar ou tirar algo de seu desabafo.

O conteúdo da carta guarda algumas situações e sentimentos que é incompreensível para outros, mas que machuca fortemente a protagonista. Ok, o homem e a mulher disseram para ela que ali era um bar, o espectador sabe que o local correto para se ditar e despachar uma carta é uma agência dos correios. Mas, diante da frustração da personagem principal, há de se pensar se ela já passou por outros lugares, pedindo a mesma coisa. Ou se ela entrará em outros bares, lojas de roupas, escritórios de contabilidade, ou num posto de gasolina e irá pedir a mesma coisa. Fica a impressão que, para ela, a carta nem é tão importante, mas é preciso colocar para fora o que sente.

E o comportamento das pessoas que ficam, logo após a mulher deixar o dinheiro para que a carta seja enviada é triste, é insensível, mas infelizmente, parece ser a realidade de muitas pessoas que se negam a compreender os problemas de outras e tratar com indiferença.

Em seus 6 minutos, “O Bilhete” demonstra uma qualidade enorme da equipe técnica e criativa. O diretor Clark Cesar, consegue extrair o máximo do texto, criando o universo onde o espectador rapidamente se conecta com a protagonista, interpretada por Luana Santos. Mesmo com as poucas informações transmitidas pela mulher que dita a carta, o elo de ligação entre protagonista e espectador se cria muito devido à excelente atuação de Luana. O filme conta ainda com Samuel Kühn, Giseli Rover, Nelso Buttendorf Junior, Marlon Ricci e Gino Ricardo no elenco.

“O Bilhete” cumpre com muita eficiência o desafio de ser um filme que se passa num único ambiente, com um arco dramático e narrativo muito bem alinhado. O filme é uma realização da Oficina Produções. 




domingo, 20 de outubro de 2024

O DUPLO (2012)






O curta, com roteiro e direção, da talentosíssima Juliana Rojas, explora o universo de uma professora do primário que passou a sofrer com a aparição e impacto de seu doppelgänger. Da mitologia germânica, um doppelgänger é uma criatura que assume a forma perfeita de uma pessoa. Porém, essa sósia perfeita é maligna, trazendo um presságio de má sorte, maldade e morte. Inspirado no caso da professora Emilie Sagée, no ano de 1845, o filme tem uma atmosfera intensamente sinistra.

Durante uma aula, a professora de Matemática Sílvia, interpretada de forma brilhante pela atriz Sabrina Greve, se vê na horripilante situação. Desde então, a sua rotina é alterada de toda forma. Os realizadores foram extremamente felizes em criar o clima para que os espectadores pudessem adentrar na mente da protagonista.

A sequência na sala de professores é profundamente perturbadora. E durante um evento de apresentação para os pais de alunos, o que se vê é uma perfeição de medo, horror e tensão.

Juliana Rojas leva a trama muito além de simplesmente concluir que o que ocorre com Sílvia é a influência de um doppelgänger, e pronto. A diretora-roteirista convida o espectador a refletir sobre a sanidade mental da professora. E, além de criar essa tarefa para o espectador, ainda ficamos com dúvidas sobre quando estamos vendo a Sílvia e quando estamos vendo a sua sósia maligna. E rebobinamos o filme em nossa cabeça para tentar destrinchar “quem é quem”. “O Duplo” é um exemplo perfeito de um filme que dosa com muita eficiência o Mistério, o Suspense e o Terror.

E muito disso se dá pelo comportamento de Sílvia. Ao invés de expressões de pavor e gritos, a atriz Sabrina Greve mantém expressões de descontentamento e dúvidas (é claro), mas sempre transmitindo a sensação de que há algo mais e que nós não sabemos. Ela segue ou é seguida pela cópia. Ou a sósia quem segue a Sílvia original. E essa aparente tranquilidade, por um lado, mostra que a cabeça de Sílvia pode sim estar ferrada. Mas também se é somente uma cópia maléfica ou, devido a algum problema, Sílvia seria capaz de fazer algumas coisas que faz.

“O Duplo” é uma excelente produção. Com elementos técnicos muito bem utilizados. Por exemplo a trilha sonora; até agora o barulho do elástico continua me incomodando. O filme tem uma ótima fotografia, direção de arte, efeitos sonoros etc. O filme, dentro de seus 24 minutos, tem uma crescente dramática dentro da narrativa, que envolve, choca e impressiona quem assiste ao filme. O espectador se envolve, se choca e se impressiona junto com a protagonista. Nunca o barulho de um elástico batendo no papelão de uma pasta me irritou tanto.


Além de Sabrina Greve,o elenco de "O Duplo" conta com Gilda Nomacce, Majeca Angelucci, Daniel Ribeiro, Henrique Rabelo, Hilda de Alencar Gil, Mariza Junqueira, Sara Silveira, Helena Albergaria e Thereza Cristina, além da participação dos atores mirins.

O curta é uma realização da Itinerante Filmes, em associação com Electrica, Filmes do Caixote, Flora Dias, Lucas Barbi e Quanta Post.





sábado, 19 de outubro de 2024

SINGULAR (2023)

O Drama em curta-metragem acompanha o dia-a-dia de uma solitária mulher, que passa a receber misteriosas mensagens que são deixadas na porta de seu apartamento.

Os bilhetes, escritos à mão, a incomodam porque, além de invadir a sua privacidade, tocam em assuntos que mexem bastante com a sua cabeça, com o seu estado mental, emocional e psicológico.

“Singular” é uma maravilhosa jornada cinematográfica, onde tudo acontece em praticamente um único ambiente e com a eficiente e talentosa atuação de Priscylla Atanes.

Miguel Atanes, responsável por roteiro, direção, montagem e música, demonstra toda a sua qualidade ao extrair o máximo do texto e encaixando, gradativamente, os elementos que revelam o objetivo dos bilhetes misteriosos. Os elementos de Suspense e Mistério, são utilizados pontualmente, de forma a resolução é surpreendente e extremamente sensível.

“Singular” eleva o filme para além do que se vê em tela. O filme traz uma proposta para uma reflexão totalmente relevante para os nossos dias, nossos comportamentos, nossa realidade e a forma como vivemos. Muito provavelmente, vários espectadores vão interpretar o filme de acordo com as suas visões e, pra falar a verdade, todas essas interpretações são especialmente importantes, porque cada pessoa enxerga o “seu mundo” através da sua lente. Pode ser que muitos se identifiquem com a protagonista do filme e se depare com um cotidiano parecido com o dela. E a proposta do filme é como uma sugestão pessoal.

“Singular” é um filme impecável em todos os seus aspectos, seja na narrativa, na dramaticidade e nos elementos técnicos de produção. É um filme que vale ser visto e revisto de tempos em tempos, porque tem uma importante mensagem para todos nós.




quinta-feira, 17 de outubro de 2024

PELEJA NO SERTÃO (2016)


 
O curta em animação apresenta um caminhão pau de arara, que transporta algumas pessoas por uma estrada do interior do nordeste do Brasil. A viagem segue bem, até que um buraco na estrada de terra danifica o veículo e os personagens precisam seguir a pé em meio a claridade da lua cheia.


“Peleja no Sertão” é uma animação que explora muito bem os gêneros Terror, Suspense e Ação. Desde os pequenos ruídos que alguns personagens escutam até o voo de uma rasga-mortalha, a atmosfera densa é estabelecida e o lobisomem não demora a surgir e intensificar ainda mais a tensão, o medo e terror dos personagens e dos espectadores.

O curta tem um roteiro excelente, onde algo sempre está acontecendo. Coesão narrativa e dramática estão sempre nivelados, com uma história que, arrepia nos momentos em que a ameaça ronda os personagens, ou nos ataques e lutas.

As equipes criativa e técnica entregaram um trabalho maravilhoso para quem é fã dos gêneros Animação e/ou Terror. O filme é de uma qualidade inquestionável, muito bem construído e elaborado. E a homenagem, referência a uma das mais emblemáticas transformações de humano em lobisomem foi lindo de ver.

O curta tem um desenvolvimento muito eficiente, dentro de uma trama envolvente e com um final surpreendente, confirmando a eficiência dos realizadores, desde a proposta da história até como o ritmo do enredo. Tudo está muito bem encaixado em seu devido lugar, não sobrando e nem falta nada em nenhum momento da história.

“Peleja no Sertão” é mais um dos exemplos da competência, talento e dedicação dos realizadores de audiovisual no Brasil. O curta prova que tem muita gente boa produzindo cinema no país. “Peleja no Sertão” tem direção de Fabio Miranda e roteiro do diretor, juntamente com George Patrick e Marco Mourão. Os demais profissionais envolvidos na produção estão no nosso post no Instagram.


Não perca a oportunidade de assistir um filme assustador, criativo e muito bem produzido.




segunda-feira, 14 de outubro de 2024

LIMBO (2016)

 


O curta, com roteiro de Gabriel Figueira, e com direção dele juntamente com Diogo Tupinambá, apresenta um homem que é despertado pelo toque da campainha de seu apartamento. Ele se levanta e vai até a porta, entretanto, não há ninguém.

“Limbo” tem apenas 8 minutos, e, durante esse tempo, consegue criar, manter e finalizar uma interação e intimidade do espectador com o protagonista. O primeiro ponto para essa ligação é sobre quem pode ter tocado a campainha. Porém, antes mesmo disso, a direção de fotografia de Diogo Tupinambá e Luan Lopez dá a sensação de que o homem está sendo vigiado por alguém, como na cena em que caminha dentro da casa.


Em seguida, a câmera “colada” no personagem cria a ligação entre espectador e protagonistas, que vai durar até o fim do filme. Através dessa imersão, as dúvidas, os questionamentos, os conflitos internos do personagem, atingem em cheio quem assiste ao filme. E muito disso se dá também pela brilhante atuação de Cayyan Menezes, que transmite toda a sensação de angústia, aflição e medo, sem falar uma única sílaba.


“Limbo” é um excelente Drama/Mistério que explora sensações e sentimentos de forma muito eficiente. O personagem se sente trancado em seu apartamento, porque é obrigado a isso. Ele se sente inseguro porque, mesmo vivendo num lugar que lhe é íntimo, sabe que não tem como sair. Sua vida se resume àquele lugar, de onde não pode sair e nem receber ajuda. E, em meio ao seu desespero, há um fio de esperança, que termina por ser apenas mais um choque que apenas é uma ilusão e foi um acerto enorme por parte dos realizadores.

Realizar um filme que se passa num único ambiente sempre é um desafio. Construir uma narrativa e uma base dramática sem nenhum diálogo é um desafio maior ainda. E a equipe técnica e criativa faz isso com muita competência.

 

Assista primeiro e e leia depois


 “Limbo” é um filme que deixa algumas dúvidas no ar. O personagem é desperto pelo toque da campainha. Neste momento ele está deitado, veste apenas uma calça de moletom e está sem camisa. Ao se levantar, veste um roupão xadrez e permanece com ele durante todo o filme. Na sequência final, logo após entrar em desespero por estar preso, uma porta se abre. Ao constatar que não há como sair da casa e todas as portas o vão manter preso naquele universo, o personagem entrega os pontos e se deita novamente, vestido com o mesmo roupão. Com o movimento de câmera e o reflexo do espelho, o personagem está deitado, porém, sem o roupão. O que relembra o início do filme. O meu questionamento foi: “quantas vezes o protagonista já foi despertado pela campainha e teve aqueles transtornos?”. Na minha opinião, cabe o sentido religioso sobre o limbo, mas também o sentido filosófico. Com a diferença de que, se for pelo sentido religioso cristão, ele está ali, não por vontade própria, mas por um fator externo, tendo como castigo, reviver todos os dias da mesma maneira.

Na segunda hipótese, o personagem está trancado em seu universo, por vontade própria, porém meio que inconsciente. Num estado metafórico, o personagem se nega a sair de onde está, mesmo que isso o traga sofrimento e desespero. E assim, vive e revive a mesma situação, até que tome uma decisão.



sábado, 12 de outubro de 2024

ETERNIDADE (2016)


A produção independente “Eternidade” é um Drama/Mistério/Suspense/Terror que surpreende tanto pela qualidade do texto, pelos aspectos técnicos, e, principalmente por conseguir de forma intensa homenagear o Expressionismo Alemão. Em seus 13 minutos, o filme, com roteiro e direção de Flávio Carnielli, consegue transportar o espectador para o universo sombrio do curta.

A alternância de luz e sombras, a distorção da realidade, a representação abstrata do psicológico do personagem Bernardo, tudo está no ponto para uma produção que consegue dialogar com o cinema do século 21, tendo como base as principais características do gênero surgido no pós-Primeira Guerra Mundial na Alemanha.

A construção do personagem principal é perfeita, ainda mais que se trata de um filme mudo. A aflição, a tristeza, o desespero, tudo está ali, de frente ao espelho, onde ele se abre para si mesmo e clama pelo reencontro com sua amada, Emília.

A trama é fluida, dinâmica e enigmática. Tudo ali seria realidade ou era apenas a alucinação de uma mente perturbada e que se sente culpada? A forma como o protagonista é questionado, como alguns elementos são inseridos no enredo, tudo fica com ar de mistério. E mesmo com a realização do desejo de Bernardo, sobram mais dúvidas sobre Bernardo, Emília e a Eternidade. Quem fez o quê? Quem pede o quê? Qual o preço cobrado pela eternidade?

Enfim, elogiar a qualidade narrativa, técnica e dramática de “Eternidade” é chover no molhado. É assistir e se entregar ao filme. A trilha sonora de Fabiano Negri ajuda demais imersão dentro do universo trágico, assustador e misterioso do curta.

Outro ponto que chama muito a atenção é a fotografia, Leandro Galoni. Tudo no curta é perfeito, seja em planos mais abertos ou nos planos-detalhes extremamente necessários. Ou vai dizer que os olhos dos personagens não influenciaram na percepção do estado mental dos personagens? Impressionante também é o design de produção e figurino, que teve como responsável Helen Quintans, e a maquiagem e efeitos, de Eduardo Campos. A maquiagem é um dos pontos fortes e marcantes do filme.

“Eternidade” é adoravelmente perturbador. É um filme que inova, ao mesmo tempo em que tem por base um movimento tão importante para a história do cinema mundial.

E não podemos nos esquecer das atuações fantásticas de Filastor Brega, Amanda Costa e Andréa Sesso. Cada qual com seu papel, conseguiu incorporar perfeitamente, não personagens simples, mas extremamente complexos.

Assistir “Eternidade” é uma experiência fantástica e que deve ser repetida. As sensações causadas ao longo do filme são incríveis e com certeza vão agradar os cinéfilos que curtem o Expressionismo Alemão. Muito mais do que apenas um curta que mescla Drama, Terror e Mistério, “Eternidade” é aquele tipo de filme que nos dá orgulho por termos profissionais tão competentes que realizaram a produção. É com muita satisfação que assisto “Eternidade”, e com muito mais satisfação que escrevo sobre uma obra com uma qualidade inquestionável.


"Eternidade" está disponível no site do Festival Taguatinga de Cinema: https://festivaltaguatinga.com.br/festivalTagua/12/assista/vote/filme/521



sexta-feira, 11 de outubro de 2024

EU ZUMBI: COISAS DE BAR, OU PASSA A RÉGUA E TRAZ A CONTA (2011)

 O curta, com roteiro e direção de Alexander S. Buck, é uma realização da Onírios Produções. Assisti ao filme de 7 minutos sem saber a sinopse, gênero ou outros detalhes. “Eu Zumbi: Coisas de Bar, ou Passa a Régua e Traz a Conta” foi uma grata surpresa. Num primeiro momento, o filme nos dá algumas informações sobre o local, os clientes e a visão de dois dos protagonistas, para, em seguida situar o espectador no que ocorre (ou ocorreu), logo que o tumulto no bar se generalizou.


A escolha por produzir um found footage foi acertadíssima. E a mescla de duas perspectivas, dá um toque muito forte em tudo o que se desenrola do miolo para o final do curta. A técnica do split-screen, ou tela dividida, em dois planos foi muito bem executada, ao ponto de eu não saber dizer com exatidão qual o gênero do filme. Assistir às duas perspectivas (dos clientes e dos cineastas), me fez imergir de cabeça na realidade do curta. E o fato de ser um foun footage foi providencial. Na minha opinião, “Eu Zumbi: Coisas de Bar, ou Passa a Régua e Traz a Conta”, começa como uma Comédia e se torna um Suspense. No segundo ato, o filme ainda caminha pela Comédia, mas faz um uso certeiro do humor mórbido. E, no terceiro ato, na resolução final, diante da situação que fugiu do controle, a trama é obrigada a ser um Drama.



E é preciso ressaltar a qualidade da fotografia e montagem, pois o filme é composto por planos-sequências muito bem realizados, com a direção de fotografia de Caio Perim e a montagem de Ormando Neto. Esses dois elementos praticamente dão sustentação para que o filme pudesse ser com “câmeras” e “celulares” nas mãos. E o filme é impactante por isso. Não fosse essa a técnica utilizada pela equipe produtiva, talvez não fosse tão chocante.

O elenco, que conta com William Lannart, Erik Martincues, Samya Peruchi, Ormando Neto, João Barros, Caio Perim, Alexandre Brunoro e Magno Santos, além dos figurantes, tem atuações muito convincentes. Da ironia do primeiro personagem até o desespero final, tudo está muito bem encaixado. Em nenhum momento os realizadores deixam a peteca cair, com coesão narrativa e dramática impecáveis.

“Eu Zumbi: Coisas de Bar, ou Passa a Régua e Traz a Conta” é mais uma prova da capacidade e qualidade dos profissionais que trabalham com a produção nacional de curtas-metragens. O filme tem direção de produção de Magno Santos e a produção é de Daniele Micoids, Ingrid Holzmeister, João Barros e Marcelo Reis. O ótimo trabalho de maquiagem e efeitos especiais são de Alexandre Brunoro, com design gráfico e identidade visual de Lucas Cypriano.



Assistir “Eu Zumbi: Coisas de Bar, ou Passa a Régua e Traz a Conta” é uma ótima experiência. Além da excelente trama, percebemos também que toda a equipe técnica e criativa sabe o que está fazendo, entregando um trabalho com muita qualidade, criatividade e astúcia. Os realizadores demonstram que não tiveram receio em ousar e o resultado final é um filme perfeito.




quarta-feira, 9 de outubro de 2024

DRAMA DE UM COTIDIANO REAL (2011)

O Drama Experimental, com roteiro de Marco T. Alves acompanha os questionamentos de um indivíduo qualquer, que vive numa grande cidade e é inundado todo o tempo por uma avalanche de produtos, informações e rótulos para quem vive no atual momento da nossa sociedade.


Apesar do curta ser de 2011, Marco T. Alves dá destaque para algo que se acentuou muito mais nos anos posteriores. Se TV, sociedade e marcas ditam o que e como cada pessoa deve ser, os algoritmos das redes sociais sufocam ainda mais as pessoas. Muito provavelmente, o protagonista de “Drama de um Cotidiano Real” sofre ainda mais na década de 2020.


O curta, com apenas 6 minutos, transmite as sensações frenéticas de um caos, onde as pessoas, muitas vezes, nem percebe que está inserida. Quando percebe, faz os mesmos questionamentos do personagem e sofre com as mesmas conclusões. As críticas apontadas pelos realizadores são pontuais e necessárias. O consumismo desenfreado incentivado pela mídia, a busca desesperada por cada vez que faz com que indivíduos transformem as suas vidas numa eternas busca por... Por qualquer coisa que lhe dê satisfação. Dopamina. A dopamina nossa de cada dia, que faz com que os objetivos das vidas das pessoas sempre sejam mais e mais.


A entrada do segundo personagem, apresenta também a perigosa realidade em que vivemos. Muitos optam por caminhos mais curtos para conseguirem o que querem. Mesmo com as diferenças, dá para afirmar que ele também vive no seu círculo vicioso atrás do que deseja.

Mesmo com o incômodo narrado pelo protagonista, a impressão que se dá é que não adianta tentar mudar o mundo, pois somos muito pequenos dentro de uma estrutura gigantesca. Porém, mesmo optando por não dar murros em ponta de faca, é possível viver sem ser tão influenciado pelo mundo externo, procurando criar as próprias situações que trazem prazer e felicidade, mesmo nas coisas mais simples.



“Drama de um Cotidiano Real” tem uma ótima fotografia de Luiz Fernando Tavares Alves, que também é responsável pela pós-produção do curta. O elenco conta com Gabriel Manetti e André Anhaia. A música é de DJ Nato com áudio de Vera Nunes e Fabio Freire. A edição de vídeo também é de Vera Nunes. O casting é de Gabriel Manetti.



COURO DE GATO (1962)

  O curta, com roteiro e direção de Joaquim Pedro de Andrade, se passa na cidade do Rio de Janeiro pouco antes do carnaval. Na falta de mate...